como as cigarras morrem
e como as pessoas mentem
eu já pensei que seria bom
gritar até explodir
mas eu desaprendi a gritar
acho que tem mais de um ano que eu não solto um grito
gritei com amigos num campo antes da despedida
chegaram os seguranças
é preciso ser silencioso
mas não muito
mostre, se apresente
minta
que está bem
que está feliz
realizada
casa própria
de aluguel
plena
de carência
mas minta
mas não a ponto de deixar de ser escritora
me animou saber que a mitomania poderia ser profissão
minto mal
fujo o olhar
pais presentes
mas não nos impediram de mentir
criaram dois escritores
as cigarras
aquelas preguiçosas do cantos de verão
que mendigam comida para as formigas de Esopo
vivem 16 anos enterradas
bebendo seiva
das raízes
produzindo caminhos invisíveis
ninguém viu ninguém sabe
infeliz ou felizmente
cigarras não morrem explodindo
morrem normal
porque transam
cantam
voam na fumaça
e vivem até onde deu
será que fumo
pra ser cigarra
e explodir por dentro
e mentir pro mundo em silêncio?
essa mentira
de matar a cigarra
de fome, preguiça e canto
é uma mensagem política:
não seja artista
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