sábado, 27 de junho de 2020

faz tanto silêncio que acho que estou ouvindo coisas



Siberia Oriental, cinco de abril de dois mil e vinte
Quatro e dezoito am

E no meio da solidão, uma guerra
O que existe de mais solitário que uma guerra?
Imagina se o vírus que te deixa surda, sem paladar e olfato, também te quita a memória?
Arma psico-mental-biológica
Na verdade o que todos querem é cheirar o cangote dos seus amores
Ouvir a chuva bater no chão do quintal no meio da siesta com alguém passando um café pra você
E o pior é não esquecer
Se me tiram tudo isso e ainda me deixam sozinha, prefiro não lembrar
Acho que isso é mais forte do que a memória de você exatamente
A lembrança mais forte é do efeito especial que você exerce em mim
Lembro do sentimento ébrio antes de te ver
Saio para fumar na varanda
E na verdade quero fazer do meu corpo afora um sinal de que podes entrar
De que estou em casa
Essa casa com cheiro de cigarro e plantas, café e cocada
A curva que você precisa fazer pra chegar no meu bairro parece o quadrado de vidro da porta da sala de aula
Em que te espero passar todos os dias
Paixão e solidão e lembranças
São matérias sensíveis e voláteis
Partículas em aceleração constante e crescente
Fazem os neurônios arderem
As lembranças podem me levar a esquecer tudo





quarta-feira, 24 de junho de 2020

Errorismos



filosofia de errar
pra construir uma bomba foi necessário errar 999 vezes

vale o quanto pesa
assuma os riscos

errar é ser uma bomba
desse tipo que a gente não sabe quando a bomba está pronta
quando podemos parar de insistir na demolição

(T) errorista
a culpa não é minha
largar a igreja me ajudou a não perder a intensidade
largar a igreja me ajudou na sabotagem
voltei
não tem como saber sem ir