quinta-feira, 21 de julho de 2011
sina clandestina, ou, como é gostoso ter angústia
luz sem vergonha,
me faça plástica, me faça castanha.
me faça parar esse nariz que chora.
me faça cessar esse olho que dorme.
me dê de comer a esses dedos que escrevem.
me tire as terças-feiras das semanas.
me deixe ver por janelas de video cassetes.
me dê maçanetas para abrir as portas largas.
e então, me dê um espelho no quarto para que eu possa ver minhas costas quentes.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
o trisco e o trago
o oposto da trip é o fogo.
o oposto do som é o dente.
o oposto do peso é o choro.
o oposto do vento é a garganta.
o oposto do osso é o sono.
o oposto do pilar é o azul.
o oposto da cor é a corda.
o oposto do anjo é a água benta.
o oposto de mim é a carne fraca, também oposto do osso.
o oposto da bicicleta é o maiô.
o oposto da vista é o chão.
o oposto da dor é o cangote.
o amigo da pedra é o caminho.
o meu amigo é o meu asfalto.
junho|2011
picture|http://www.cynthiagyuru.com.br/blog
quarta-feira, 22 de junho de 2011
não ter dom dói.
porque tatit diz que o dom dói.
saber que tem dom dói?
saber que não ter dói.
ser som dói.
ser cor dói.
até sorrir dói.
querer dolorir dói, mas não sentir dor é não querer sentir frio.
sentir que sente o dente, o calo, a hérnia, a afta, a febre quente, o afogamento, a água nos pulmões, o batom borrado em festa, a lasca do vestido na porta do carro, o fim.
dolor, preciso de você para doer em mim a vontade de te escrever.
sábado, 7 de maio de 2011
oi não sei por quê
eu tenho entendido melhor onde eu moro.
e eu moro entre as montanhas.
e eu trabalho agora, e eu não escrevo mais.
e me falaram que a fala é suja e a escrita é santa.
e eu quero escrever, mas não quero ser santa.
e eu moro entre as montanhas.
e eu trabalho agora, e eu não escrevo mais.
e me falaram que a fala é suja e a escrita é santa.
e eu quero escrever, mas não quero ser santa.
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